Os estudiosos ao fazerem o recorte da cultura popular afirmam que a
origem da Educação Popular aconteceu por volta dos anos 50. Porem, essa
educação sempre esteve presente na vida das classes, dos despossuidos de
poderes, fama e riqueza. Podemos dizer que ela é uma confluência entre a
cultura moderna e tradicional: as festas e celebrações da vida, nos seus
cantos e momentos de dor, na sua forma de resistir aos conflitos, na sua
forma de expressar sua fé, de aprender a sobreviver e entender o mundo. A
essa maneira de educar das classes populares, saberes que não estão
presentes nos currículos escolares, mas que são vitais a sua sobrevivência
e identidades é que chamamos de Cultura Popular. Ao ressignificar esses
saberes construídos a séculos, lhe deram uma nova classificação e a
conceituaram como Educação Popular.
A Educação Popular surge num momento histórico e tinha um papel
preponderante na construção de um projeto para o país e o fortalecimento
de uma mística revolucionária. Havia no país um desejo imperativo, desejo
de mudança, de maior democracia e de justiça social. O espírito revolucionário se
fortalecia tendo como exemplo a revolução Cubana, e mais tarde a Nicarágua. O
movimento revolucionário acontecia no Chile, Argentina e em outros paises.
Em principio, um conceito não tão bem definido, ainda vinculada com o
movimento de Cultura Popular: uma educação comprometida com os sujeitos menos
favorecidos. Essa consolidação da Educação popular se dá na articulação entre os
conceitos marxistas e cristãos e nasce se posicionando como oposição a educação
informal, tendo como expoente teórico Paulo Freire, com sua obra Pedagogia do
Oprimido. Trazia uma metodologia e conceitos articulados, orientados por uma leitura
dos conflitos entre as classes sociais. Sua obra apresentava princípios fundamentais para
a pratica educativa libertadora se opondo a educação autoritária: toda educação tem uma
intencionalidade política, por isso ela não é neutra; todos os homens e mulheres trazem
consigo um saber e a sua apropriação acontece através do dialogo; o conhecimento
como provocador da consciência do sujeito que o motivava à ação transformadora da
realidade. As idéias de Paulo Freire aprofundaram o corte histórico, que já vinha
acontecendo com as idéias marxistas, a doutrina social da Igreja, questionando a
sociedade brasileira, a educação com caráter assistencialista e todo o sistema
educacional.
A pressão dos trabalhadores aumenta exigindo educação para seus filhos, o
mesmo acontecia com os movimentos sociais, tanto rurais quanto urbanos, exigindo
maior participação nas decisões do país e mudanças estruturais. É um momento
histórico onde as classes populares e outros segmentos da sociedade solidários às
reivindicações populares se sentem fortalecidos. Nesse palco a UNE, jovens estudantes
universitários tiveram um papel preponderante no movimento de alfabetização. Esta era
tida como uma estratégia de mudança e participação política. A Igreja Católica foi
criativa e comprometida ao implementar o projeto Movimento de Educação de Base
(MEB), este chega até as regiões mais distantes do eixo Sudeste e Sul, atuando
principalmente na Região Nordeste.
Para Rudá Ricci 1 “o papel da educação popular , nos dias atuais, seria
tencionar esta sabedoria que brota do cotidiano pensado com o conhecimento nascido
da racionalidade cientifica, porém nos dias atuais ainda é sentida uma indefinição.”
1 (Ricci/Rudá/2009)
Acredito que um dos fatores é encontro imbricado entre a Educação Popular e o
Pensamento cientifico, aquela acaba perdendo o seu encantamento, a paixão e ganha na
racionalidade. Pergunto-me: será por isso, uma das causas, que a educação popular
fugiu do chão dos grupos populares, comunidades e ganhou os céus da academia? Sem
saudosismo, em tempos neoliberais como fazer o caminho inverso? Diante desse novo
contexto não é possível negar a importância e necessidade do pensamento cientifico e
tecnológico, mas como refazer o caminho que leva ao encontro da educação humanista,
proposta por Paulo Freire?
Gabriela Barbosa
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